quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Brincando de Beckett II...

O que não sabe esperar

– E essa sensação de estar escrevendo o que já foi lido? De comer o que já foi digerido. De revelar o que já é sabido. De esperar o que já passou. Passa?

– Não, isso é ansiedade. É não conseguir esperar pelo que vem e, por isso, perder o que está.

– E quem está?

– Tudo e todos. Menos você...

– E eu chego?

– Talvez, nunca. Chato, né?

– Então eu não vivo nada, na verdade. Só penso, e acho que vivo.

– Não, você até vive. Num ritmo mais rápido do que todos, com uma intensidade menor. Mas vive...

– Errado. Eu (sobre)vivo. Tentando respirar ao mesmo tempo em que como, para não perder o tempo que já está sendo perdido. Mas o tempo passa. E eu sempre fico... Será que alguém, algum dia, fica comigo?

– Não. Todos passam, do mesmo jeito que você. O seu problema é que você está muito preocupado com a velocidade da vida para perceber que a paisagem muda de figura. Até você muda...

– E a minha ansiedade faz com que eu não perceba nem as minhas próprias mudanças. Eu sou rápido demais, até para mim mesmo... Não é?

– A verdade é que você é lerdo demais...

Um comentário:

Bárbara Cecília disse...

A ansiedade nos faz um mal silencioso. Cuide-se, cuidarei-me... Fique bem.