"Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim..."
(Chico Buarque – João e Maria)
Há exatamente um mês atrás eu estava sentada numa praia vazia do Alentejo, comemorando meus 23 anos. Um lampião, um bolo de pêssego, um violão e alguns amigos foram os elementos para fazer a festa, que já tinha o gosto insosso da despedida. Pensei nisso hoje de manhã, quando me dei conta de que estou no Rio há apenas um mês. Não sei se é a pressa para que as saudades diminuam ou se é minha ansiedade habitual que está fazendo com que as coisas aconteçam mais rápido do que o de costume. Fato é que no espaço de 30 dias eu já me readaptei ao tamanho da cidade, aos amigos e à rotina carioca.
A sensação é que Coimbra está cada vez mais longe. Mais distante do que eu queria que estivesse. Acostumar-se com um dia-a-dia morno não é a opção mais fácil para quem teve um ano repleto de mudanças de temperatura. Ao mesmo tempo, não parece existir outra solução, pelo menos, por enquanto. As festas continuam fazendo parte da agenda e as horas de estudo – mais inventadas do que realmente necessárias – ficam encarregadas de me trazer de volta ao campus da PUC. No entanto, nada serve para afastar a paralisia que toma conta – não da cidade, porque o Rio parece não parar para nada – de qualquer tentativa de se empolgar com qualquer coisa.
É frustrante constatar a falta de perspectiva que tenho em relação às coisas e pessoas. Com o fim do curso anunciado para o final de Dezembro, as provas de seleção começam a aparecer na minha caixa de e-mail, mas nem isso é capaz de me fazer traçar rotas e planejar efetivamente um futuro próximo. Nos outros assuntos, só vejo o prenúncio de uma estiagem sem fim anunciado. Nada de pessimista, ao contrário do que possa parecer. Entediante, apenas. Sinto como se eu tivesse estagnado no portão de embarque do Porto, ao mesmo tempo em que um “eu” apático desembarcou no Galeão. É questão de tempo, dizem alguns.
Enquanto alguma coisas não se definem, permaneço também indefinida e inconstante. Acordo absurdamente feliz por ter a possibilidade da praia aqui ao lado e, horas depois, encontro-me com uma vontade incontrolável de receber uma mensagem para jantar no Eurotópico. Talvez, por isso, ainda não tenha batido o martelo em relação ao blog... Querendo ou não, é uma maneira de ainda estar um pouco lá, por mais que seja uma das muitas formas de saudosismo barato. Se vou continuar atualizando ou não, ainda não sei dizer. Caso isso aconteça, os textos tendem a mudar um pouco, mas vou evitar o gênero "querido diário". Não é meu estilo e acredito que existam assuntos mais relevantes do que os repetitivos tons do meu dia-a-dia. Por hora, fica um texto que não conclui nada. Até porque, eu continuo sem desfecho. O benefício da dúvida, às vezes, é a melhor saída...
4 comentários:
Impressionante que algumas coisas você só consegue dizer escrevendo. E aí elas ficam mais claras, por mais duvidosas que sejam.
Não pare de escrever não. Eu gosto muito de te ler. De verdade.
Um beijo.
Ola !!
tenha dúvidas ou certezas, só não deixe de escreve-las.
beijos
"sai uma académica com massa espiral e sem ervilhas..."
Apareça para conversarmos mais...
beijos
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