terça-feira, 27 de março de 2007

Viagens à minha infância…

Uma rápida volta pelo desfiladeiro Dadés foi o que tomou conta do início da manhã. Mais uma vez, a altura das pedras e aquele vale no meio do nada conseguiram impressionar da mesma maneira que fizeram da primeira vez, no dia anterior. Com as malas prontas para seguir viagem e o tempo contado nos relógios, estávamos decididos a retomar parcialmente o roteiro traçado ainda Portugal. O dia seria dedicado à Ouarzazate e Ait Ben Haddou, uma aldeia no caminho para Marraquesh. As horas de carro por entre montanhas repletas de neve conseguiram saciar a minha vontade de ver os flocos brancos, instigadas pelo episódio de dias antes, a caminho do deserto. Parecendo uma cadeia de bolos de chocolate confeitados com açúcar, as montanhas no caminho para Marraquesh formavam uma paisagem de tirar o fôlego.

Antes disso, no entanto, aquele Marrocos das revistas de turismo resolveu aparecer para os visitantes. As cores até então vistas em Fez e Chefchaouen foram finalmente
substituídas pelos tons de terra e pelo cenário árido a perder de vista. O país castanho que eu sempre imaginara estava de fato na minha frente. E conseguia superar toda e qualquer expectativa criada. Numa espécie de camuflagem acidental, as casas ao longo da estrada se mesclavam com o fundo em terracota, sendo necessária uma dose maior de atenção para reparar na sua existência. Em princípio, pensava que aquelas construções eram conservadas a nível de atracão turística e por causa das belas paisagens que formavam. Segundo Mohamed, nosso guia-motorista, havia pessoas que de fato moravam ali, nas construções que me faziam lembrar a história de João de Barro, contadas na escola.

No caminho, diversas mulheres carregavam o peso da submissão nas costas, em forma de fardos literais, enquanto os maridos iam à frente ditando o trajeto. As paradas estratégicas continuaram e graças a isso pudemos ver cenários dignos de filme. Alguns lugares, inclusive, me fizeram lembrar de cenas de Babel, exceto pela sensação de insegurança, que eu não tive em momento algum até chegar à Marraquesh. Numa dessas paradas, dois meninos locais vieram com iguanas – verdadeiras atracões turísticas.

As tentativas
de apresentar os bichinhos como animais exóticos não me convenceram muito, já que estive acostumada a ver vários desses no quintal de casa, quando era criança. Salvo as diferenças linguísticas e de moeda, nesses momentos era impossível não ter alguns flashbacks das viagens em família pelo Pantanal, nos idos tempos de Campo Grande. Com as boiadas longe e os irmãos - companheiros de banco de trás - no Rio, a Iguana foi o suficiente para me levar de volta às estradas empoeiradas do interior do Brasil...

A passagem por Ouarzazate foi rápida. Depois de nos convencermos que a cidade não teria muita novidade, nem atracões turísticas,
resolvemos seguir diretamente para Ait Ben Haddou. Paramos ainda em Skoura, uma espécie de “palmário” no meio do caminho, que formava um mar verde em meio a um cenário ocre demais. Uma rápida parada para caminhar por entre as palmeiras foi suficiente para dar o local como explorado. No meio da estrada, no entanto, um empreendimento se destacou: Atlas Filmes, um estúdio de cinema marroquino, do qual eu desconhecia por completo a existência. Imagino que deva ser alguma coisa no mesmo género de Bollywood, só que em menor escala.

Algum tempo depois estaríamos entrando em Ait Ben Haddou, nosso destino final do dia...

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