segunda-feira, 30 de abril de 2007

Submundo consentido...

Atrás da igreja, depois de virar algumas esquinas demarcadas com a cor vermelha, encontra-se o Red Light District, uma espécie de concentração consentida de tudo o que há no submundo ocidental. Uma localização, no mínimo, paradoxal para o bairro onde a prostituição é legalizada e o comércio - não só do sexo, como também o das drogas - parece não ter limites. Das sex-shops mais comuns a um Museu do Sexo, vê-se de tudo nas ruas. Inclusive corpos perfeitos em lingeries provocantes, expostos em vitrines ao longo da via. Tudo muito organizado e hierarquizado, para manter o profissionalismo do negócio, que é inegável. As que se assemelham a modelos de comerciais famosos garantem sua vista para o canal, onde fica a rua mais movimentada do bairro. As que estão um pouco fora do padrão de beleza vigente, mas que ainda assim atraem consumidores, espalham-se pelas ruas menores, em vitrines aparentemente menos visitadas.

É tudo muito rápido, já que a máxima "tempo é dinheiro" parece funcionar perfeitamente ali. As pessoas passam na rua e escolhem a companheira para os próximos vinte minutos. Num piscar de olhos, depois de combinado o preço, a cortina da respectiva vitrine é fechada e o serviço prestado. Tempos depois, o cliente satisfeito sai porta afora e a menina volta para o seu posto, esperando a próxima investida. Sempre com seguranças espalhados pelas ruas, as fotos não são muito bem vistas e os turistas são tão observados quanto qualquer mulher que esteja exposta. Ingenuidade seria pensar que é só curiosidade em relação ao bairro o que leve tanta gente lá: em pouco tempo, a oferta de todo e qualquer tipo de droga foi feita inúmeras vezes. Um lugar onde o liberalismo assusta os mais conservadores e faz a festa daqueles que reclamam da hipocrisia da maior parte do mundo. Ver mulheres em vitrines, como mercadorias, não foi o que mais chocou. O olhar convicto e provocante que todas ostentam deixa claro que aquilo é uma opção - talvez, não a primeira - e que não se envergonham disso. Elas pagam impostos e são profissionais de uma área que a maior parte das pessoas mantém sob o sigilo da vida privada. Os risos e os comentários, por parte dos grupos de turistas, pode até incomodar as meninas mas, se isso acontece, não se percebe facilmente. Mais do que prontas do papel que desempenham, as garotas do Red Light District parecem estar preparadas para os olhares de reprovação que às vezes surgem e de pessoas que passam por ali para vê-las como atração turística.

Se fazer de chocada ao andar pelas ruas do Red Light District é simular uma cegueira conveniente. Quem vive no Rio de Janeiro e passa pela Avenida Atlântica ou pela Sernambetiba de madrugada já viu cenas muito parecidas. A grande diferença é que, no Brasil, as vitrines são embaçadas o suficiente para tenhamos a desculpa de não estar vendo o óbvio. Além disso, na hora de preencher algum formulário, "prostituta" não aparece como opção válida para profissão: o máximo que se usa é um eufemismo como "profissonal liberal". Nesse ponto, o liberalismo de Amsterdam - se não é melhor - é, no mínimo, menos hipócrita...

Nenhum comentário: